12/11/2025

AVARIOU-SE-ME A BÚSSOLA

Há dias em que parece que o Mundo todo está de pernas para o ar, trocas as voltas aos pontos cardeais, aos tempos verbais e aos sinais vitais, de repente o sol nasce a Oeste e põe-se de manhãzinha, e os pássaros da Mafalda são do Norte e a pronúncia do Rui é do Sul, e não há horóscopo que te salve porque nem sequer podes culpar o Mercúrio Retrógado. O GPS vira WTF, não há mapas nem coordenadas nem cata-ventos nem bruxas nem share locations que te valham.

Mas já lá vamos.

Acabei há dias a 4ª edição da viagem ao México que organizo com os Trilhos da Terra, por ocasião do Dia de Muertos. Foram vinte e um dias épicos por este país colorido e intenso – a descobrir sabores, histórias, personagens, curiosidades várias... e, como seria de esperar, não só adorei partilhar tudo isso com os meus viajantes, como cheguei ao fim toooodo partido. De tal forma que, mal me separei deles, em Cancun, reservei uma noite no hotel mais perto da estação de autocarros e ali aterrei. Nem sequer saí para jantar: fiquei no quarto a fechar contas, a fazer o rascunho de um plano para os próximos dias... e adormeci.

Dez horas depois – dez! – acordei meio banzado. Não estou habituado a dormir tanto, mas se o corpo pede é porque o corpo precisa, e eu já sei que depois de um grupo preciso sempre de uns dias assim, entre a ronha e a ressaca.

O plano era ficar três dias algures por aqui; e depois voar para El Salvador. Contudo, e como podes calcular, queria tudo menos ficar em Cancun. Pus-me a investigar um bocadinho sobre a zona (curiosamente, e apesar de já ter vivido e viajado muito no México, não conheço quase nada da Riviera Maya – e gosto pouco do que já vi aqui, confesso) e acabei por reservar um quarto em Puerto Morelos. Pareceu-me mais calminho do que Cancun, Playa del Carmen e afins.

E assim nos aproximamos da parte do dia que dá o nome e o mote a esta crónica: com as tais dez horas de sono em cima, fiz check out do hotel, quase trinta minutos depois da hora limite (o que deu direito a uma silenciosa repreensão (e grátis) do recepcionista de serviço; e saí para o calor húmido com as mochilas cheias e o estômago ainda vazio. Por um lado, queria sentar-me a comer qualquer coisa, estava com uma ligeira dor de cabeça e a tal sensação de ressaca... por outro, quando mais depressa chegasse a Puerto Morelos, melhor – já só queria deitar-me numa espreguiçadeira, na praia...

Do hotel à estação de autocarros eram meia dúzia de passos e, pelo caminho, duas lojas de souvenirs, uma banca a vender capas de telefones e carregadores, uma oficina, uma agência de viagens – e uma passagem de peões com as cores do arco-íris, que é uma das primeiras memórias que tenho da minha estreia no México, há quase quatro anos. Cafezinho, nem vê-lo. Cheguei à estação dos autocarros e improvisei um banquete com um café de lata e umas bolachinhas... e quando percebi que havia um coletivo pronto a sair, reclamei o único lugar vago que restava.

Que maravilha: não tarda estou na praia.

Passou num instante, a viagem. Meia hora depois, o condutor anunciava “Puerto Morelos” e eu desci. À nossa frente estava estacionada uma combi mais pequena, perguntei se ia para a praia de Puerto Morelos e o condutor, todo stressado, mandou-me entrar. Não havia propriamente lugares, disse-lhe que era melhor ir na próxima, mas ele lá mexeu umas malas e em segundos materializou-se uma espécie de lugar junto à porta. Sentei-me de costas para os lugares da frente, virado para todos os outros passageiros. Era o único estrangeiro. Arrancámos.

Só que em vez de virar à esquerda, na estradinha que segue para a praia de Puerto Morelos, a combi seguiu em frente, pela auto-estrada, na direcção de Playa del Carmen. Claro que não dei logo-logo por isso: eu ia sentado ao contrário, reparei lá se virou ou não virou. Só que, por mero acaso, espreitei o google maps, para ter uma ideia da distância que ainda ia ter de percorrer até ao hotel, e foi então que vi que o pontinho azul a avançar numa direcção que não era a suposta.

‘Desculpe... esta combi vai para a praia de Puerto Morelos?’

Os passageiros à minha frente esbugalharam os olhos.

Não ia – ia para Playa del Carmen.

Respira fundo, Jorge. Pára a combiii!

Desci para a berma da estrada e enquanto a combi arrancava na direcção do seu destino, convoquei Ek Chuah, o deus maia protector dos viajantes, e pus-me a caminho do lugar de onde nunca devia ter saído... um quilómetro e meio atrás... debaixo de um sol pesado e duas mochilas abrasadoras... ou era ao contrário?

Seja como for: fiz o que tinha a fazer. Voltei ao ponto zero. Perguntei pela combi que vai para Puerto Morelos e indicaram-me uma esquina uns dez metros à frente. Aí esperei cinco minutos, apareceu a carrinha certa e lá fui eu para onde era suposto ir.

Três quilómetros depois, voltei a descer. O hotel ficava a quase um quilómetro, faz-se bem. Lancei-me novamente à estrada, 'ao menos tenho sombra', pensei, enquanto seguia por uma recta sem qualquer casa, rodeada de floresta e um pântano, cantarolando a nova música da Rosalia, que não me sai da cabeça.

Confesso que achei estranho não haver casas. Imaginava uma espécie de Algarve, com casas de férias e um restaurantezinho aqui e ali, mais umas lojas de souvenirs... e é certo que reservara um hotel que não ficava na rua principal, para evitar o barulho de bares e afins... mas isto era mesmo remoto.

Ao que decidi espreitar o google maps outra vez.

E foda-se!, desculpa-me lá o franciú mas é mesmo assim. Estava a ir na direcção do tal “ponto zero” outra vez! Ou seja: estava a fazer de volta o mesmo caminho que acabara de fazer na combi. Apetecia-me gritar de desespero, chamar nomes ao Universo, rir-me de mim próprio às gargalhadas. Belo alinhamento astral que devo ter hoje... a sério!

Voltei para trás... outra vez... já a pingar, com a t-shirt colada às costas e a mochila colada à t-shirt... e eis que vejo uma pequena placa nas árvores...


(Agora com zoom, caso não tenhas visto bem à primeira.)


A sério... era só o que me faltava, agora.

Com todo o respeto, acelerei o passo. Crocodilos? E o pântano ali mesmo ao lado da berma, nem a dois metros. O que seria, ser motivo de notícia nos telejornais mexicanos de logo à noite. Calma, Jorge, nem sequer é um sinal oficial, isto é alguém a pregar uma partida, deve mesmo haver crocodilos aqui, deve...


Oops... dúvidas houvesse!

Mas sobrevivi, como já deves ter percebido pelo facto de estar a escrever esta crónica. E continuei pela rua certa, finalmente; e agora sim, entre casinhas catitas, bares com turistas, restaurantes internacionais e um cenário muito mais a ver com a tal expectativa. Cheguei ao hotel e era uma simpatia, o quarto não estava pronto mas cheguei, é o que interessa, e como havia piscina no terraço foi apara aí que fui, enquanto esperava que limpassem o quarto. Estava com fome e dor de cabeça, mas não queria sair sem ter o quarto pronto. Dei uns mergulhos na piscina, estendi-me na espreguiçadeira, passei pelas brasas e, ao acordar, a crónica saiu-me de rajada, que sensação boa, adoro quando assim é. Já tinha saudades de escrever no blog. Isto é para manter. É para continuar. De preferência, sem ter de caminhar quatro quilómetros ao sol com as mochilas em cima.

‘Señor Jorge... su habitacion está lista.’

Agora sim: cheguei a Puerto Morelos.

Ah: e afinal o Mercúrio Retrógado até já começou... tu queres ver??

10/11/2025

2 ANOS, 2 MESES E 2 DIAS

Passaram dois anos, entretanto. Um pouco mais, aliás: dois anos, dois meses e dois dias, desde a última vez que aqui vim brincar aos blogs (e publiquei o post anterior a este).

Onde é que eu ia?

(Olha eu a revirar os olhos.)

Ia para a República Dominicana. Num voo charter! Eu, que atravessei a Índia de vespa e uma parte de África de bicicleta, que organizo viagens de imersão cultural xalálá para pequenos grupos, que digo que sim a mil aventuras e desafios menos convencionais – eu, tão Indiana Jones, tão Marco Polo, tão Lara Croft, ou tão com a mania... num charter para Punta Cana?! Quem te viu e quem te vê, Jorge Vassallo.

Passo a explicar: é que eu estava prestes a começar uma fase nova na minha vida, coitadinho, tinha largado a minha casinha de Lisboa e arrumara todo o meu ouro numa box... e lá ia eu, todo desapego e o-caminho-é-o-destino, todo lançado para quase um ano de tacos, tequillas e mariachis.

Ai caray! E o voo tinha-me custado uma pechincha!

Punta Cana, portanto. E aí ficou o blog durante todo este tempo.


Setecentos e noventa e quatro dias depois, o X do meu mapa do tesouro continua nessa mesma box no centro de Lisboa. Voltei várias vezes a Portugal, entretanto – e que belos Verões foram estes dois últimos! – mas quase sempre em modo sem-abrigo-mas-cheio-de-amigos. Ainda não tenho novo ninho... nem tenciono começar a procurar tão cedo, para ser sincero. Por enquanto, está-se bem como se está.

Foi quase um ano no México, portanto. Mil e uma voltas pela capital do país, outras tantas pelo país fora e mais algumas pelos países à volta deste país. Mais duas temporadas de viagens na Ásia. E também aprendi a falar Indonésio. Atravessei o Vietname de mota. Desci o Tejo num kayak. Caminhei por trilhos italianos. Regressei à Índia (aonde não ia desde que rebentou a pandemia). Terminei uma relação de quatro anos. Comecei a trabalhar com os Trilhos da Terra, do Bernardo Conde. O blog fez vinte anos. O instagram continuou a “bombar"... okay,  mais ou menos a "bombar" (apesar da paciência ser cada vez mais chiquitita). Organizei com a Mami "A Mais Pequena Feira do Livro do Mundo". E pelo meio era suposto já ter terminado o meu livro da Indonésia... mas ainda aqui ando às voltas com esses relatos e, apesar de estar mais perto que nunca do fim... eu sei lá! Melhor: entretanto fui começando outros, imagina. Só para aumentar um bocadinho mais o caos que já é isto de ser escritor-aventureiro. Ou ter a mania que. Um sobre a experiência de um ano na Cidade do México. Outro acerca da aventura de mota no Vietname. E aquele best of para celebrar os 25 anos do blog - se alguma vez lá chegar?







A vida deu as cambalhotas que tinha de dar, o mundo deu mil tropeções e abanões e trambolhões... e eu? Eu deixei-me levar, my friend, aproveitei cada sorriso e cada abraço e cada petisco e cada tchim tchim! que fui encontrando pelo caminho... e cá estou, sentado à frente do computador, num quarto enorme e barato em Puerto Morelos (provavelmente o único spot pacato da Riviera Maya, mas não digas a ninguém), depois de três semanas a viajar pelo México com um grupo de oito pessoas. Chove lá fora e não é pouco, e não é muito – é bastante. Mas longe do aparato daqueles furacões que aparecem cada vez com mais frequência nos telejornais.

Apeteceu-me voltar ao blog. Dois anos, dois meses e dois dias depois, eu sei lá se isto vai dar em alguma coisa, até porque já ensaiei este regresso meia dúzia de vezes, nos últimos anos, e nenhuma tentativa logrou aguentar-se muito tempo. Mas vou tentar. Não custa tentar. Quero mesmo-mesmo ver se ponho isto às voltas outra vez.

Nem que seja para que o último post do blog não verse sobre eu a entrar num voo charter para Punta Cana.



08/09/2023

PUNTA CANA, AQUI VOU EU

Fui dar uma volta à República Dominicana, portanto. Encontrara um voo barato de Lisboa para Punta Cana e outro de Santo Domingo para a Cidade do México, quatro dias depois. Pareceu-me uma boa ideia, na altura. Por um lado, poupava nos voos; por outro, claro que uma escala de quatro dias tinha o seu custo. Mas achei que era uma boa desculpa para descansar um bocadinho entre o reboliço das despedidas e a roda viva que iam ser os primeiros dias no México; e sempre via um sítio novo, um país que ainda por cima nunca tive grande curiosidade para visitar, confesso.

Alías... só o título deste post é quase impensável, na lógica das minhas voltas habituais.

Mas voltemos ao aeroporto de Lisboa, por um bocadinho.

Um bocadinho, não: umas quatro horas... que estucha!

Lá preenchi o tal e-ticket e despedi-me da minha mãe, que estava especialmente emocionada com esta partida. Mesmo depois de tantos anos de idas e vindas, o coração ainda sente isto. E o facto de ser assumidamente uma estadia longa, e de ter largado o meu ninho em Lisboa - e basicamente estarem todas as hipóteses em aberto, venha lá o que vier... mãe sofre, hem?

Com o pomposo voucher de 20 euros comprei dois sumos de laranja e gengibre, uma caixinha com ananás aos pedaços e dois pastéis de bacalhau. A loucura! O luxo! E ainda tive de dar quinze cêntimos do meu bolso, porque ultrapassei o plafond. Enfim.

A partida foi um-tanto-ou-quanto confusa. Não havia qualquer indicação do voo nos ecrãs, mas como avisaram que o embarque ia ser feito na porta 45, não me preocupei muito. Ou seja: cheguei às 17:15 à porta indicada e tinha acabado de me sentar, quando uma voz no altifalante do aeroporto informou que afinal era íamos sair da porta 42. Tudo bem: levantei-me, bora lá... mas isto ainda vai dar confusão, pensei. Ainda por cima, ao contrário de um voo normal – onde vão passageiros de todos os géneros, dos frequentes aos novatos, dos que estão a ir aos que estão a voltar, dos que vão de férias aos que vão em trabalho, dos que vão para o destino do voo em causa aos que só fazem escala e continuam para algum lado... onde há de tudo, portanto... várias energias, várias formas de estar e reagir –, neste voo charter o perfil era quase todo o mesmo: famílias a ir de férias. Casais com filhos adolescentes amuados agarrados aos ipads e criancinhas irrequietas ora aos pulos e piruetas, ora a fazer birras satânicas; sogras curiosas, confusas e pouco pacientes; cunhados solteiros todos musculados a rir de tudo e a fazer olhinhos às primas que fazem vídeos para o tiktok; os tios que sabem sempre mais do que toda a gente sobre tudo e alguma coisa; a vizinha que passa vida à janela a cuscovilhar... só faltava o Bobi e os piriquitos.

Eu era, muito provavelmente, o único passageiro que estava a viajar sozinho. E garantidamente o único que não tinha um grito de guerra. Já lá vamos.

Eram quase 19:00, quando a porta de embarque finalmente abriu. Quase uma hora e meia depois da hora que tinha sido anunciada – que, por sua vez, era mais de duas horas depois da hora que devia ter sido, inicialmente. O staff, que não tinha culpa nenhuma seja-lá-do-que-for mas que está ali a cumprir ordens e a dar a cara, queria à força embarcar os passageiros à pressa – mas alguns estavam mais virados para uma boa peixeirada, “vocês é que se atrasaram, agora estão com pressa, né?”, e por causa de uns pagam os outros, e vice versa, por isso estavam uns de trombas e os outros de trombas estavam, e eu caladinho que nem uma pescada, nem queria acreditar no filme em que me estava a meter.



Arrancámos às 19:40... quatro horas depois da hora marcada... que bela merda.

Quanto ao voo: digamos que cheguei à República Dominicana com a caderneta cheia - e com alguns para a troca. Era o senhor sentado dois lugares à minha frente que não tinha espaço suficiente para as coisas na bagageira em cima do seu lugar, e que se recusava a arrumá-las um nadinha mais atrás. E a outra a insistir com não-sei-quem para trocar com ela porque o Fábio já estava a mandar vir e ela é que não-sei-quê. E a criancinha aos pontapés no banco da frente (não o meu, felizmente) e os pais na boa, contrariar o menino é que não. E o grupo super excitado que tinha um grito de guerra (provavelmente ensaiado nas férias do ano passado, em Benidorm). E o pai na fila à minha frente, que tinha Paciência Zero para a filha de oito anos, à mínima agitação era logo um olhar de vou-te-aos-cornos mas não ia, ao menos isso. No entanto, era constrangedor, era um horror, eu revoltante e eu evitava tê-los no meu campo de visão porque ficava com o coração apertado, só de ver. E vá-se lá perceber porquê, mas ainda no início do voo parou o filme que estava a ver e deixou o ecrã na mesma imagem durante quase toda a viagem, estivesse acordado ou a dormir.

Neste frame:



Eu também tentei dormir, mas sem grande sucesso. A ansiedade por tudo o que aí vem não me deixava pregar olho - por isso distraí-me com outros filmes: vi o último do Spielberg, vi outro que tinha a sensação de já ter visto, e mesmo assim vi até ao fim, e continuo a não ter a certeza, mas tenho quase a certeza que sim; e vi outro que não achei piada nenhuma mas mesmo assim vi porque era o único que dava para acabar de ver antes do avião aterrar.



Eram quase 22:00, quando aterrámos em Punta Cana. Mas sobre a chegada falo no próximo post.

30/08/2023

STRESS MATINAL

Chegou finalmente o dia de partir. Acordei moído, a energia meio em baixo, o joelho esquerdo dorido, tudo por causa da queda de mota do dia anterior. E sentia-me meio ansioso, nem sei bem explicar, o que era uma novidade relativamente ao meu estado de espírito dos dias anteriores: no meio de tanta combinação de última hora, despedidas e correrias, acho que até estive bastante calmo, meio a pairar, tendo em conta a mudança que se aproximava.

Ao contrário do que normalmente acontece em viagens “normais”, desta vez tinha começado a preparar as mochilas com alguma antecedência. A gestão da bagagem, aliás, era diferente de outras partidas. Não só pelo facto de ir passar uma temporada longa que, na verdade, nem sei bem quanto tempo vai ser... mas porque, sem casa, era toda uma logística entre O Que Vai e O Que Fica.

E o que fica, fica na box.

Ou seja: vai-e-vem e vem-e-vai... e há dois ou três dias que andava com a sensação de me faltar uma coisa ou outra... mas entre as corridas de Lisboa para a Praia das Maçãs e da Praia das Maçãs para Aljezur e de Aljezur para São Teotónio e de São Teotónio para Lisboa... ufffaaaa... até fico tonto... uma coisa ou outra poderia ter ficado esquecida em algum lado. Porque não? Ou talvez já a tivesse guardado na box. Ou, quem sabe, até já a arrumara na mochila. Portanto: se já tinha acordado moído e meio ansioso disto-e-daquilo, imagina quando me apercebi que não só me faltava “uma coisa ou outra”... mas toda uma mochila!

Enviei umas mensagens, viste a mochila?, será que está aqui?, será que deixei ali?, ou vai na volta e esqueci-me dela no autocarro?, e o que será que ficou lá dentro?, lembrava-me de uma camisas, roupa interior, uns livros, o champô... nada de grave, mas e se... enfim, fazer o quê? Ia para o aeroporto daí a um par de horas, não é agora que vai fazer falta. Tenho comigo o passaporte e cartões, escova de dentes, umas mudas de roupa e uns 30kg de mixórdias várias, pelo menos, entre as duas mochilas. Concerteza que me safo.

Ninguém sabia do paradeiro da mochila – e apesar do assunto não me sair da cabeça, mais por teimosia do que outra coisa qualquer, eu tinha mais que fazer. Passei o resto da manhã a apagar os últimos fogos, almocei com a minha mãe na Adega Minhota e lá fomos para o aeroporto.



O voo estava programado para as 15:40 e eu cheguei 2 horas antes ao aeroporto, como manda a etiqueta. Mas não havia nada anunciado nos ecrãs. Quer dizer: haver, até havia. Todos os voos excepto aquele em que eu ia voar. Estranho. Contudo, era um voo charter, e eu nunca tinha voado em voos charter. Será que é normal não o anunciarem? Será que há toda uma logística diferente para voos charter? Fui espreitar no flight radar... e lá estava o voo, mas anunciado para as 19:10! WTF?!

Pedi à minha santa mãezinha para me guardar a bagagem por uns minutos e saí disparado pelo aeroporto adentro, em mood barata tonta, à procura de respostas. Não havia balcão de atendimento da companhia aérea, mas rapidamente descobri o check-in, menos mal. Voltei para a fiel depositária das minhas bagagens e daí seguimos para o check in. Tinha acabado de me plantar na fila (pequena, que sorte!) quando fui abordado por uma agente de viagens com um dossier numa mão, caneta esferográfica na outra, a tomar notas e a riscar números, que me deu as boas tardes e entregou um voucher de 20 euros para utilizar em meia dúzia de lojas do aeroporto, porque o embarque afinal só ia começar às 17:30.

Eram 14:00, entretanto.

“Ah...”, acrescentou a senhora agente de viagens, com um sorriso ensaiado, “e já preencheu o formuláriozinho do e-ticket?”

“O quê?... desculpe, não sei do que está a falar.”

Só faltava revirar os olhos, a senhora agente de viagens:

“Então, nas notas que enviámos aos grupos estava bem explícito... toda a gente tem que fazer o e-ticket.”

Okay: mas eu não fiz o e-ticket. Eu sabia lá do e-ticket. Olhei para as famílias à minha frente, na fila. Voo charter. Já percebi:

“Notas de viagem? Minha senhora, eu não venho com nenhuma agência de viagens, estou a viajar por conta própria.”

A senhora agente de viagens tentou disfarçar um sorrisinho de coitadinho-que-pobrezinho, e já a despachar-me apontou para um QR code e rosnou com uma ponta de nojo:

“O link está ali. Sem e-ticket, não pode embarcar para a República Dominicana.”

República Dominicana?!

Mas tu não ias para o México, Jorge Vassallo? Explico já no próximo post.

28/08/2023

55 FOTOS

Tal como prometido no último post, hoje partilho contigo 55 fotos que celebram os tais 55 dias passados em Portugal, antes de me mudar aqui para o México. São completamente aleatórias, tal como foram estes dias ;)